O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o secretário-geral da ONU, António Guterres, uniram esforços para mobilizar a comunidade internacional em torno da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).
A iniciativa, coordenada pelo embaixador da COP30, André Correa do Lago, resultou na convocação de uma reunião virtual com líderes globais nesta quarta-feira (23), com foco nas pautas climáticas e na promoção de uma transição energética justa.
Do lado brasileiro, participaram do encontro o presidente Lula, o embaixador Correa do Lago, o assessor especial para assuntos internacionais Celso Amorim, o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira e a ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Entre os líderes internacionais presentes estiveram o presidente da China, Xi Jinping, o presidente da França, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen.
Após o encontro, os ministros Mauro Vieira e Marina Silva destacaram que outras reuniões similares deverão ocorrer ao longo do ano. O objetivo central é estimular os países a apresentarem suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — metas de redução de emissões de gases do efeito estufa — e fortalecer o apoio às propostas do Brasil na presidência da COP30.
As NDCs são compromissos assumidos por cada nação no âmbito do Acordo de Paris para limitar o aquecimento global a no máximo 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
A corrida pelas NDCs
Até agora, apenas 19 dos 196 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima atualizaram e entregaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
O prazo original para envio era fevereiro, mas foi prorrogado até setembro devido ao número expressivo de países que ainda não cumpriram a exigência.
O Brasil submeteu sua nova NDC no ano passado, durante a COP 29, realizada em Baku. No entanto, grandes emissores de gases de efeito estufa, como a China e membros da União Europeia, ainda não apresentaram suas metas revisadas.
Até o momento, os países que entregaram suas NDCs são: Brasil, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Uruguai, Suíça, Reino Unido, Nova Zelândia, Andorra, Equador, Santa Lúcia, Ilhas Marshall, Singapura, Zimbábue, Canadá, Japão, Montenegro, Cuba, Maldivas e Zâmbia.
O planeta está "farto de promessas não cumpridas"
O pronunciamento do presidente Lula não foi exibido ao vivo. Somente após sua participação no encontro, o Palácio do Planalto disponibilizou o conteúdo do discurso.
No texto divulgado, Lula reafirmou, durante a cúpula do clima, que o mundo está “cansado de promessas não cumpridas” e pressionou as nações mais ricas a cumprirem seu papel no financiamento de ações voltadas ao enfrentamento das mudanças climáticas.
Confira a seguir os principais trechos do discurso do presidente brasileiro.
“Queremos fazer da COP30 um grande mutirão em prol da implementação dos compromissos climáticos. Guerras, corridas armamentistas e cortes na ajuda ao desenvolvimento e no financiamento climático nos empurram para trás. O planeta já está farto de promessas não cumpridas.”
“Os países ricos, que foram os maiores beneficiados pela economia baseada em carbono, precisam estar à altura de suas responsabilidades. Está em suas mãos antecipar metas de neutralidade climática e ampliar o financiamento até o objetivo de um trilhão e trezentos bilhões de dólares.”
Durante seu discurso, o presidente reforçou que o Brasil lançará, durante a COP30, um fundo voltado ao apoio de países em desenvolvimento na preservação de florestas tropicais.
Ele também mencionou o Papa Francisco, destacando que os conflitos armados e a corrida por armamentos “nos fazem retroceder”.
Clima e Economia: financiamentos verdes e novas oportunidades
Outro ponto-chave discutido durante a reunião foi o financiamento das iniciativas destinadas ao combate às mudanças climáticas. Segundo Corrêa do Lago, a discussão já ultrapassa a meta estabelecida para Baku, assumindo agora um compromisso mais abrangente e ambicioso.
“Precisamos repensar as bases do financiamento climático se quisermos atingir cifras como 1,3 trilhão de dólares. O Brasil defenderá transparência total nas negociações.”
Selwin Hart, conselheiro da ONU para questões climáticas, ressaltou que a crise do clima, apesar dos desafios, também abre portas para novas oportunidades econômicas.
“No ano passado, 1,5 milhão de empregos foram criados no setor de energia renovável, que já representa 10% do PIB global. Não estamos apenas salvando ecossistemas — estamos criando alternativas econômicas reais.”
Estudos realizados pela comunidade científica apontam que seriam necessários US$ 1,3 trilhão para assegurar recursos adequados para as ações de preservação ambiental. No entanto, durante a última COP, realizada em Baku (Azerbaijão) no ano passado, o montante alcançado foi de apenas US$ 300 bilhões, quantia considerada pelo governo brasileiro como “insuficiente” e uma “decepção”. Além disso, esse valor também é tratado com cautela pela comunidade internacional.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, também afirmou que a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris pode influenciar as negociações durante a conferência no Brasil
Especialistas destacam que, sendo os Estados Unidos a maior economia global e o segundo maior emissor de gases de efeito estufa, as decisões do novo presidente Donald Trump nas questões ambientais podem ter um impacto significativo na batalha mundial contra as mudanças climáticas. Nesse contexto, o Brasil pretende sugerir aos países do BRICS (como Rússia, Índia, China e África do Sul) que apresentem uma posição unificada sobre o financiamento climático na COP30. O governo Lula acredita que, com uma proposta conjunta, o grupo teria mais chances de aprová-la.
Vitrine do multilateralismo: COP30 como palco para a colaboração global
De acordo com o embaixador Mauro Vieira, a seleção dos líderes participantes da reunião levou em consideração dois aspectos principais:
- As potências globais;
- Os países pequenos, fortemente impactados pela crise climática.
O encontro proporcionou um ambiente no qual cada nação teve a oportunidade de expor suas particularidades, com o objetivo de estabelecer um consenso em torno da transição energética e do financiamento climático.
Hart ressaltou que a COP30 tem o potencial de reforçar a confiança mundial nas instituições multilaterais.
“Será o momento de mostrar que o Acordo de Paris ainda é nosso melhor instrumento para enfrentar a crise climática. A mensagem é clara: o mundo está avançando, com ou sem hesitação de alguns países.”