Durante uma intensa agenda em Pequim na última semana, o presidente da COP30, o diplomata brasileiro André Corrêa do Lago, realizou cerca de vinte encontros com representantes de governos e organizações da sociedade civil. Em coletiva nesta sexta-feira (18), Lago destacou que seu principal objetivo é reconduzir a crise climática ao foco das atenções mundiais, em meio a um cenário geopolítico que tem priorizado outras urgências.
O diplomata fez alusão à crescente tensão comercial entre China e Estados Unidos. “Ficou muito claro que, para o governo chinês, os últimos dias foram marcados pela preocupação com a guerra comercial”, declarou. Ainda assim, ressaltou a firmeza com que a China tem conduzido sua transição para uma economia de baixo carbono, classificando o comprometimento como “impressionante”.
Segundo Lago, há uma expectativa concreta de que a China apresente, até a COP30 – marcada para novembro em Belém (PA) – novas metas climáticas nacionalmente determinadas (NDCs) com alto grau de ambição. Enquanto isso, Estados Unidos e Brasil já oficializaram suas contribuições. No entanto, a decisão do presidente Donald Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris freou o ritmo de outros países. “A União Europeia, por exemplo, ainda não apresentou sua nova NDC”, observou.
Apesar da ausência de Washington em sua rota diplomática, que já passou por Índia, França e Alemanha e seguirá por Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, União Europeia e Dinamarca, Lago ainda vê possibilidade de diálogo com os EUA. Ele destacou o novo secretário de Energia americano, Chris Wright, como alguém “com longa trajetória ligada à pauta climática”.
Pequim foi considerada um ponto-chave da agenda por demonstrar que enfrentar as mudanças climáticas pode ser uma alavanca econômica, e não um fardo. “A China mostrou de forma convincente que investir em clima não é um sacrifício econômico. Exemplos como os carros elétricos e os painéis solares comprovam isso”, disse Lago, pontuando que a transição ecológica tem dinamizado a economia chinesa.
Durante a estadia na capital chinesa, Lago se reuniu com o ministro da Ecologia e Meio Ambiente, Huang Runqiu, e com o presidente do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, além de representantes de ONGs locais. Para ele, é essencial integrar mais fortemente a China na Agenda de Ação – espaço paralelo da COP voltado à sociedade civil, ao setor privado e a governos subnacionais. “Muitas vezes se pensa que esse protagonismo é exclusivo do Ocidente, mas a China tem muito a contribuir”, afirmou.
Huang, por sua vez, reconheceu os crescentes desafios da governança climática global e reforçou a importância do multilateralismo e do princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, como pilares para uma transição justa nos países em desenvolvimento.
Ao comentar sobre o financiamento da transição energética nesses países, Lago apontou que a retirada dos EUA do Acordo de Paris agravou a dificuldade de mobilizar recursos internacionais. Ainda assim, enfatizou a posição unânime entre as nações em desenvolvimento: “Não é justo que esses países assumam o papel de financiadores, quando foram justamente os desenvolvidos os maiores responsáveis pelas emissões históricas”.
Para ele, além de atrair novamente a atenção global para o clima, é fundamental reafirmar que soluções multilaterais são o caminho mais eficaz para lidar com um desafio que não respeita fronteiras.