Em vez de plantar árvores reais, o governo do Pará instalou estruturas em formato de árvore, chamadas de “jardins suspensos”, na Nova Doca, em Belém. A ação faz parte das preparações para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que acontece em novembro.
Segundo a Secretaria de Obras Públicas (Seop), as plantas naturais e ornamentais foram fixadas em estruturas de vergalhões metálicos reutilizados. “O projeto prevê o plantio de árvores em áreas adequadas e a instalação dos jardins suspensos”, informa o governo. Até a COP, 180 unidades desses jardins serão instaladas em dois parques lineares, com 80 na Nova Doca e 100 na avenida Almirante Tamandaré. O custo do projeto não foi divulgado.
O sistema, inspirado em modelos de Singapura e inicialmente denominado “árvores artificiais” pelo governo, gerou polêmica nas redes sociais. Ambientalistas, paisagistas, moradores e influenciadores criticaram a iniciativa.
Belém, uma das capitais menos arborizadas do Brasil, enfrenta quedas de árvores centenárias, especialmente durante o inverno amazônico, quando as chuvas intensas aumentam.
A arquiteta Naira Carvalho, responsável pelo projeto, defende que as estruturas oferecerão sombra e conforto em áreas onde o plantio de árvores reais é inviável, devido à falta de espaço para raízes ou solo adequado. A ideia foi inspirada em modelos implantados em Singapura.
Uma das críticas aponta que vasos ou espécies adequadas poderiam ser uma alternativa viável para os locais.

Chega a ser caricato. Temos espécies de arbustos que produzem sombreamento, cujas raízes não são profundas e, portanto, jamais afetariam tubulações enterradas de infraestrutura ou os pavimentos. Também dariam boa cobertura vegetal, sombreamento e proteção. Possuímos árvores de pequeno porte, de espécies nativas do bioma amazônico ou exóticas.
Diz Juliano Ximenes, paisagista e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA).
De acordo com o governo do Pará, além dos 180 jardins suspensos instalados nos dois parques lineares, também serão plantadas 250 árvores naturais, embora as espécies ainda não tenham sido especificadas.
As intervenções envolvem dois parques lineares: a Nova Doca e a avenida Almirante Tamandaré, que também está em obras para a COP 30. Os espaços contarão com quiosques, áreas verdes, locais para eventos, playgrounds, academias ao ar livre, ciclovias e zonas de contemplação.
No entanto, o pesquisador Juliano Ximenes, da UFPA, levanta críticas quanto à ausência de ações voltadas à recuperação do solo e ao restabelecimento do ecossistema local.
“Há anos o termo ‘parque linear’ é usado como se significasse tratar uma área urbanizada linearmente, como uma faixa estreita em torno de um pequeno rio urbano. Mas não deveria ser assim. Um parque linear deveria, no mínimo, recuperar parte da vegetação da área que chamamos de ‘várzea imediata’. Vulgarizou-se o conceito”, afirmou Ximenes.
Segundo o governo, os canais que cortam tanto a Doca quanto a avenida Almirante Tamandaré passam por tratamento e saneamento durante as obras. No entanto, na cidade que sediará o maior evento global sobre mudanças climáticas, as soluções adotadas nas construções refletem, segundo a arquiteta Janaína Andrade, a ausência de um olhar verdadeiramente amazônico sobre a própria região.
O jardim suspenso tem uma capacidade muito limitada de capturar carbono. Além disso, enfrenta problemas de manutenção complexa e um custo extremamente alto, o que torna o investimento pouco viável. Sem dúvida, devemos priorizar o plantio de árvores.
Afirma Janaína Andrade, arquiteta e urbanista, membro do Laboratório da Cidade em postagem nas redes sociais.
O professor Ximenes destacou que as árvores desempenham um papel essencial na recuperação ambiental das cidades, ajudando a controlar a umidade do ar e do solo, filtrar poluentes e atrair a fauna. Segundo ele, esses benefícios ocorrem quando há um conjunto com gramas e arbustos — nunca de forma isolada.
“Tudo isso revela uma contradição, pois não se trata apenas de construir suporte para plantas trepadeiras darem sombra, mas de reproduzir certas condições do ambiente na interação entre vegetação, fauna, solo, água e ar”.
Para a arquiteta e urbanista Janaína Andrade, árvores naturais oferecem mais benefícios e causam menos impacto à biodiversidade urbana, enquanto os jardins suspensos têm custo alto e retorno questionável.
Diferença entre os jardins
A arquiteta Naira Carvalho se inspirou no Supertrees Grove, um icônico complexo futurista de Singapura, para criar os jardins suspensos de Belém. Localizado em Marina Bay, o projeto asiático reúne 12 estruturas de 25 a 50 metros que funcionam como jardins verticais, com iluminação em LED, painéis solares, captação de água da chuva e mais de 160 mil plantas de diversas espécies.
Em Belém, as estruturas inspiradas no modelo possuem cerca de 2,5 metros, mas não contam com os recursos sustentáveis e tecnológicos do original.
Repercussão da ideia
O governo substituiu a expressão “árvores artificiais” por “jardins suspensos”, destacando que todas as plantas são naturais e crescem sobre estruturas de material reciclado.
Antes da mudança no nome, a instalação gerou polêmica entre especialistas, comunidades locais e influenciadores, que criticaram a iniciativa nas redes.
“Em plena Amazônia, o governo do Pará opta por estruturas artificiais para sombra e ventilação na COP 30, sem ouvir povos tradicionais da região”, disse o coletivo Cop do Povo nas redes.
A Seop informou que as estruturas definitivas já foram instaladas na Nova Doca, substituindo os protótipos por versões com topo de maior diâmetro, conforme o projeto original.
Plantio de árvores
Segundo o governo, além dos 180 jardins suspensos — instalados por limitações de solo e espaço — cerca de 250 árvores naturais também serão plantadas: 180 no Parque Linear da Doca e 70 na Avenida Tamandaré. As espécies ainda não foram divulgadas.
A Secretaria de Obras Públicas (SEOP) explicou que o projeto prevê áreas com árvores reais onde for possível, e o uso de jardins suspensos feitos com material reciclado em locais inadequados para plantio direto. As estruturas, que simulam árvores e oferecem sombra e conforto térmico, são inspiradas em modelos adotados em centros urbanos internacionais.