A BYD deu um passo histórico no Brasil. A montadora chinesa inaugurou oficialmente sua fábrica em Camaçari (Bahia) nesta quinta-feira (9), marcando o início da montagem de carros híbridos e elétricos produzidos em solo nacional.
A cerimônia contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin, além de executivos globais da empresa e diversas autoridades políticas. O evento simboliza o início de uma nova era para o setor automotivo brasileiro, agora com um dos maiores players do mundo da eletrificação.
Primeiros modelos e capacidade de produção
A operação começa com três modelos de destaque: o Dolphin Mini (hatch 100% elétrico), o Song Pro (SUV híbrido) e o King (sedã médio).
Segundo Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD, a planta tem capacidade para montar até oito modelos diferentes nos primeiros 12 meses de funcionamento — inclusive alguns que ainda não foram lançados no Brasil.
A fábrica inicia as operações nos formatos CKD (com veículos totalmente desmontados) e SKD (parcialmente desmontados), com baixo índice de nacionalização inicial.
A meta é ambiciosa: 150 mil veículos por ano na primeira fase, podendo dobrar para 300 mil unidades na segunda etapa de expansão.
Motores híbridos flex: o próximo passo da BYD no Brasil
Um dos planos mais aguardados foi confirmado: a BYD vai produzir motores híbridos flex desenvolvidos em parceria entre pesquisadores brasileiros e chineses.
Mais de 100 engenheiros trabalharam no projeto de um motor 1.5 turbo flex com injeção flexível, capaz de entregar o mesmo desempenho com gasolina ou etanol. A estreia dos primeiros modelos equipados com essa tecnologia está prevista para 2026 — mas os carros que receberão o novo sistema ainda não foram revelados.
Da Ford à BYD: a transformação da fábrica de Camaçari
O complexo industrial de Camaçari tem uma longa história. Inaugurada pela Ford em 2001, a planta foi responsável pela produção dos modelos Ka e EcoSport, símbolos da montadora no Brasil.
Após o encerramento das operações da Ford em 2021, o espaço ficou desativado até ser adquirido pela BYD em 2023, em uma negociação que durou cerca de um ano.
A montadora chinesa precisou reconstruir parte da estrutura, já que o maquinário antigo não atendia aos requisitos para fabricar veículos elétricos e híbridos modernos.
Polêmicas e atrasos na construção
Durante as obras de adaptação, a empresa enfrentou denúncias de trabalho análogo à escravidão envolvendo funcionários terceirizados. O caso levou ao embargo temporário da obra em 2024, afetando o cronograma de inauguração.
Após uma série de investigações, o Ministério Público do Trabalho autorizou a retomada total das atividades em julho de 2025, permitindo que a fábrica fosse finalizada e inaugurada oficialmente no segundo semestre.
Um marco para a eletrificação no Brasil
Com a operação em Camaçari, a BYD passa a ter três unidades produtivas no país:
- Campinas (SP), voltada à fabricação de chassis de ônibus elétricos;
- Manaus (AM), onde produz módulos fotovoltaicos;
- E agora, Bahia, dedicada aos automóveis de passeio.
A chegada da BYD reforça a transição energética do setor automotivo brasileiro, que ganha força com investimentos bilionários e novas tecnologias sustentáveis.