A forma como os pais educam seus filhos é um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento emocional, social e psicológico das crianças. E uma das questões que frequentemente surge nas interações cotidianas é a maneira de estabelecer limites, especialmente quando a criança quer algo que não é permitido. O relato de duas mães e seus filhos em um parque de diversões traz à tona uma situação que ilustra claramente dois estilos de educação diferentes: a abordagem suave e a mais rígida. Ambas podem ser eficazes, mas é essencial entender as nuances de cada uma e como elas impactam tanto a criança quanto os pais.
O relato das Duas Mães
Em uma situação comum, duas mães estavam com seus filhos em um parque de diversões. Ambos os meninos estavam interessados em brincar em um brinquedo para o qual não estavam autorizados por alguma razão, seja por idade, altura ou regras do local.
A mãe do menino número um respondeu de forma suave e calma, dizendo: “Edu, não pode”. No entanto, o menino continuou a insistir, levantando sua voz e sobrepondo o tom de sua mãe, até que, por fim, ela cedeu e deixou-o ir.
Em contraste, a mãe do segundo menino, quando se deparou com a mesma situação, respondeu de maneira mais firme e com um tom de voz mais autoritário, dizendo: “Não, você não vai”. O menino, então, aceitou a negativa sem questionar.
Esse cenário ilustra uma diferença fundamental nos estilos de educação e nos limites impostos pelos pais. Vamos analisar o que cada um desses comportamentos pode significar para o desenvolvimento da criança e o impacto na dinâmica familiar.
A abordagem Suave e Calma
A abordagem da mãe número um, mais suave, tem suas vantagens. Ela demonstra um desejo de lidar com a situação de forma tranquila e empática, tentando criar um ambiente onde a criança se sinta ouvida e compreendida. Isso pode ser benéfico, especialmente quando o objetivo é preservar o vínculo emocional e evitar confrontos diretos com a criança.
No entanto, a suavidade excessiva pode resultar em algumas consequências não tão positivas:
- Falta de Respeito pelos Limites: Quando uma criança percebe que, após um momento de resistência, pode alcançar seu objetivo (como foi o caso do menino Edu), ela pode aprender a testar constantemente os limites dos pais. A negociação constante ou a incapacidade de se manter firme pode confundir a criança sobre o que é realmente aceitável.
- Culpa e Frustração para a Mãe: Para os pais, esse tipo de abordagem pode gerar frustração e sensação de impotência, pois eles podem sentir que estão constantemente cedendo, o que acaba desgastando a relação e criando um ciclo de ineficácia na educação. Além disso, a mãe pode começar a se sentir culpada por não ter sido mais firme, levando a um sentimento de culpa por não ter tomado uma postura mais decisiva.
- Criança Menos Autocontrole: Crianças que não recebem limites claros e firmes podem ter mais dificuldade em lidar com frustrações e aprender a respeitar regras, o que pode afetar sua capacidade de tomar decisões maduras no futuro.
A abordagem Firme e Direta
Por outro lado, a mãe do segundo menino adotou um tom mais firme, dando uma resposta clara e direta. Essa abordagem tem seus próprios benefícios, especialmente no que diz respeito à construção de limites claros e consistentes:
- Estabelecimento Claro de Limites: Ao ser firme, a mãe transmite à criança que certas coisas não estão à sua disposição e que existem regras que precisam ser seguidas. Isso ajuda a criança a entender os limites e as consequências de seus comportamentos, favorecendo o desenvolvimento da disciplina.
- Autonomia e Respeito pelos Pais: Crianças que aprendem desde cedo que os limites são intransponíveis tendem a respeitar mais os pais e as figuras de autoridade. Isso não significa que a criança será privada de amor ou afeto, mas que haverá um reconhecimento de que, para existir harmonia na família, é necessário respeitar as normas estabelecidas.
- Redução da Ansiedade Familiar: Quando os pais conseguem estabelecer limites de forma firme e consistente, isso pode reduzir a ansiedade tanto para os pais quanto para a criança. A criança sabe o que esperar e o que é esperado dela, enquanto os pais podem se sentir mais confiantes em suas decisões.
Porém, como qualquer abordagem, a firmeza também deve ser aplicada com equilíbrio:
- Risco de Autoritarismo: Se a firmeza for aplicada sem empatia, a criança pode se sentir rejeitada ou incompreendida. Isso pode levar a uma relação de medo e afastamento entre pais e filhos, o que prejudica o vínculo emocional necessário para o desenvolvimento saudável da criança.
- Respostas Automáticas: Quando a firmeza se transforma em uma abordagem automática e rígida, sem considerar a individualidade e os sentimentos da criança, ela pode se tornar menos eficaz. A criança pode aceitar a ordem sem questionamento, mas isso pode impedir o desenvolvimento de habilidades de negociação e compreensão das razões por trás dos limites.
Qual Abordagem é a Melhor?
A verdade é que tanto a suavidade quanto a firmeza têm seus méritos, e o melhor caminho é encontrar um equilíbrio entre ambas. A questão central não é ser excessivamente suave ou excessivamente firme, mas sim ser consistente, claro e empático com a criança.
- Consistência: As crianças precisam entender que, quando um limite é imposto, ele será respeitado de forma consistente. A consistência cria um ambiente seguro, onde a criança pode confiar nos pais para guiá-la. Se um limite for constantemente negociado, a criança aprenderá a testar esses limites.
- Empatia: A suavidade pode ser muito útil quando a criança está expressando emoções ou frustrações. É importante que os pais se coloquem no lugar da criança, validando seus sentimentos. Contudo, isso não deve significar que os limites sejam flexibilizados. Os pais podem, por exemplo, reconhecer a frustração da criança, mas ainda assim explicar, de forma calma e firme, por que a regra precisa ser seguida.
- Ensinar a Razão por Trás da Decisão: Ao ser firme, é importante explicar o porquê do limite. Isso ajuda a criança a internalizar que as regras não existem para puni-la, mas para protegê-la e orientá-la. Por exemplo, “Você não pode ir nesse brinquedo porque é perigoso para você, e eu preciso garantir sua segurança”.
- Respeito Mútuo: Tanto a suavidade quanto a firmeza devem ser baseadas no respeito mútuo. O respeito pelas emoções da criança é fundamental, mas os limites também precisam ser respeitados. Ensinar a criança a lidar com frustrações de forma saudável é uma das lições mais valiosas que os pais podem transmitir.
A educação de um filho envolve mais do que simplesmente dizer “não”. Ela implica em construir um ambiente onde a criança possa entender os limites de forma clara, sentir-se ouvida e também aprender a lidar com as frustrações de maneira construtiva. A abordagem ideal combina a firmeza necessária para estabelecer regras claras e a suavidade necessária para validar os sentimentos da criança. Quando os pais conseguem balancear esses dois elementos, não apenas ajudam os filhos a crescerem mais equilibrados e respeitosos, mas também fortalecem o vínculo familiar, criando um ambiente de amor e confiança.
Portanto, a resposta para o dilema “Filho não pode ou Não faça isso!” não é uma escolha entre um ou outro, mas sim a habilidade de integrar ambos os elementos de forma harmônica e eficaz.